“COURO
DE BOI”
Iron Junqueira
Ser pai é ouvir
que se é o que nunca se foi.
Ser pai é ter
culpa de algo que nunca faria a um inimigo, nem de tê-lo feito a um filho a
quem jamais o melindraria com um sorriso sequer, se ele não o quisesse.
Ser pai é ser o
alvo dos erros de outros pais e ter a culpa que ele transfere do filho para si.
Ser pai é
padecer em silêncio o que a mãe padece chorando em lágrimas ou rezando em altos
brados
Ser pai é
calar-se para ensinar como se fala alto e com mais autoridade.
Ser pai é sofrer
no corpo um cansaço que mora ali com ele, e ter de carregar, nas costas, cada
filho que dele precisar.
Ser pai é
aprender o que não fazia antes: calar-se para que fale mal o mais ingrato dos
filhos.
Ser pai é não ter
mais forças para produzir o começo do trabalho que compete ao filho terminar
Ser pai é
enxugar a lágrima que não tem mais, que se secara há anos, mas segredar a dor
presa no peito, para que os filhos não o vejam fraquejar.
Ser pai é
deitar-se e desmaiar de dores secretas e de manhã levantar-se com elas nas
pálpebras e lavá-las com as palmas das mãos, fingindo ser água o que, de fato,
é pranto.
Ser pai é ser um
herói – vencido;
Ser pai – é ser
abraçado – enfraquecido;
Ser pai – é ser
valorizado – sabendo já não ter valor nenhum.
Ser pai é ser o
adulto que os filhos transformaram em menino.
Ser pai é dar
abrigo a todos os filhos e ir morar num abrigo – pra não atrapalhar nem dar
trabalho
Ser pai é ir
dormir no quarto do quintal – para que não sintam cheiro da incontinência
urinaria...
Ser pai, enfim,
e terminando, é receber “o couro de boi que o filho lhe deu e que, por cima,
ainda o divide com o neto”...
“Ser pai é
cuidar de dez filhos, sabendo que os dez filhos não darão conta dele”.
Ser pai é bom,
acima de tudo isto, porque aprendeu com o Pai Maior que ser filho nem sempre
foi melhor que ser pai.
Amém.
04.02.2012
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