quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

COURO DE BOI



“COURO DE BOI”
 Iron Junqueira

Ser pai é ouvir que se é o que nunca se foi.
Ser pai é ter culpa de algo que nunca faria a um inimigo, nem de tê-lo feito a um filho a quem jamais o melindraria com um sorriso sequer, se ele não o quisesse.
Ser pai é ser o alvo dos erros de outros pais e ter a culpa que ele transfere do filho para si.
Ser pai é padecer em silêncio o que a mãe padece chorando em lágrimas ou rezando em altos brados
Ser pai é calar-se para ensinar como se fala alto e com mais autoridade.
Ser pai é sofrer no corpo um cansaço que mora ali com ele, e ter de carregar, nas costas, cada filho que dele precisar.
Ser pai é aprender o que não fazia antes: calar-se para que fale mal o mais ingrato dos filhos.
Ser pai é não ter mais forças para produzir o começo do trabalho que compete ao filho terminar
Ser pai é enxugar a lágrima que não tem mais, que se secara há anos, mas segredar a dor presa no peito, para que os filhos não o vejam fraquejar.
Ser pai é deitar-se e desmaiar de dores secretas e de manhã levantar-se com elas nas pálpebras e lavá-las com as palmas das mãos, fingindo ser água o que, de fato, é pranto.
Ser pai é ser um herói – vencido;
Ser pai – é ser abraçado – enfraquecido;
Ser pai – é ser valorizado – sabendo já não ter valor nenhum.
Ser pai é ser o adulto que os filhos transformaram em menino.
Ser pai é dar abrigo a todos os filhos e ir morar num abrigo – pra não atrapalhar nem dar trabalho
Ser pai é ir dormir no quarto do quintal – para que não sintam cheiro da incontinência urinaria...
Ser pai, enfim, e terminando, é receber “o couro de boi que o filho lhe deu e que, por cima, ainda o divide com o neto”...
“Ser pai é cuidar de dez filhos, sabendo que os dez filhos não darão conta dele”.
Ser pai é bom, acima de tudo isto, porque aprendeu com o Pai Maior que ser filho nem sempre foi melhor que ser pai.
Amém.
04.02.2012

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